Tambor: a cura e a sacralidade ancestral

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Há muito tempo, o ser humano se utiliza da medicina dos sons, sejam eles os sons da natureza ou melodias ritmadas por instrumentos, de acordo com cada cultura e região para os mais diversos fins, desde celebrações, a jornadas e rituais de cura.
O tambor sagrado para fins de cura existe há, pelo menos, 40 mil anos em diversas culturas. O tambor é associado à Direção Sul, ao arquétipo do Curador, ao elemento Terra e aos animais de quatro patas. O som do tambor conduz à celebração, à dança e também ao êxtase, resgatando o equilíbrio e permitindo à expansão de consciência. Ele representa o coração da Mãe Terra, é o cavalo que nos leva em jornadas interiores ou para mundos distantes, a fim de entrarmos em contato com outras dimensões.
O tambor é a imitação das batidas do coração humano. Para os Xamãs, representa o pulsar da própria Terra, seu ritmo e o som sagrado de suas entranhas. Por isso, é o instrumento que facilita o acesso à cura e sustenta a abertura do coração quando o homem se conscientiza da necessidade de transformar e reprogramar os padrões cristalizados em seu próprio caminhar. 
Antropólogos e pesquisadores acreditam que o tambor surgiu ainda na Era Glacial. O homem primitivo teria percebido que o seu som criava um ritmo coletivo, grupal, mágico. E, até hoje, nativos e etnias em todo o mundo usam o tambor para despertar a energia e o poder em cada um dos participantes de cerimônias e rituais, seja na Sibéria, África, Américas ou na Índia, China, Japão e Tibet. A energia coletiva gerada a partir do seu ritmo pode ser direcionada para apoiar rituais de cura, orações, viagens xamânicas ou jornadas espirituais.
O tambor, chamado de “canoa do xamã” é o seu guia nos mundos paralelos da consciência alterada. Sua batida constante e monótona atua como uma onda mensageira, primeiro para ajudar o curandeiro a entrar no transe e, depois, para sustentá-lo em sua viagem. E como o tambor conecta o coração da pessoa que empreende esta jornada com a batida do coração da Mãe Terra, isso lhe garante uma maneira consciente de voltar ao corpo físico. Seu uso evita que o curador se perca na realidade xamânica ou perca seu próprio equilíbrio ao vivenciar os mundos paralelos, aprendendo a discernir ambas realidades. 
Pesquisas científicas demonstram que o tambor produz modificações no sistema nervoso central. A velocidade de toque para uma jornada xamânica varia de 150 a 200 batidas por minuto. Os sons repetitivos e monótonos, portanto, permitem ao xamã alterar sua consciência. O antropólogo Michael Harner relata uma pesquisa feita em laboratório, comprovando as modificações no sistema nervoso, pois as batidas são de baixa frequência, predominando o nível de frequência do eletroencéfalograma. O estímulo rítmico afeta a atividade elétrica em muitas áreas sensoriais e motoras do cérebro, diz Harner – para aqueles que desejarem aprofundar seu conhecimento em jornadas xamânicas e experiências com tambor e outros instrumentos, um livro que indico deste autor é O Caminho do Xamã. 
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Aliado ao tambor, pode-se usar também chocalhos e maracás. O nível de freqüência dos chocalhos e dos maracás é mais alto. Juntos, tambor e chocalho se complementam, sustentando e dando forma a uma rede de sons que ilumina tanto o curador quanto o paciente em sua busca pela conexão com sua essência e alma, alinhando sua energia vital, equilíbrio e saúde em todos os níveis.
Pesquisas de diversos estudiosos, a exemplo de Andrews Neher, revelam que a indução sônica do tambor pode afetar o alinhamento da freqüência cerebral com estímulos auditivos externos e que esse alinhamento pode reequilibrar o sistema nervoso central. Melinda Maxfield descobriu que o ritmo do tambor facilita o acesso às imagens de conteúdo ritualístico e cerimonial existentes na psicomitologia de cada indivíduo, facilitando a cada pessoa o caminho para chegar à cura, possibilitando a transformação de patologias.
Para se compreender melhor o que os pesquisadores descobriram é preciso entender as freqüências das ondas cerebrais, medidas normalmente por meio do eletroencefalograma (EEG). A freqüência das ondas é medida em ciclos por segundo ou Hertz (Hz), e pelo comprimento da onda. Elas se apresentam em quatro tipos: 
– DELTA, abaixo de 4 Hz, a mais longa e lenta: está associada ao sono ou inconsciência. 
– TETA, de 4 a 8 Hz: está associada a estados de sonolência próximos da inconsciência, os períodos antes de despertar ou adormecer. Considerada ainda como os estados de devaneios e imagens hipnológicas ou semelhantes às que surgem no sonho. Manter a consciência neste estado só com treinamento, como a meditação. 
– ALFA, de 8 a 13 Hz: está relacionada com os estados de relaxamento e bem-estar geral. Esta freqüência é produzida na região occipital do cérebro (córtex visual) quando os olhos estão fechados. A consciência está alerta, embora não concentrada, ou está concentrada no mundo interior. 
– BETA, além de 13 Hz: associa-se à atenção ativa e concentração no mundo exterior, podendo também estar relacionada aos estados de tensão, ansiedade, medo e diante do perigo.
Na maioria dos casos, o ritmo do tambor xamânico situa-se na freqüência de três a quatro batidas por segundo, o que coloca a pessoa no estado de freqüência Delta. No entanto, este não é o único ritmo e ele pode mudar dependendo da necessidade da pessoa a ser trabalhada ou da intenção do ritual ou cerimônia. Os índios Salish, por exemplo, usam uma freqüência de quatro a sete batidas por segundo, freqüência da onda Teta no cérebro humano. 
O uso do tambor nas jornadas e rituais xamânicos é indispensável e bem diferente das demais formas de uso deste instrumento. A literatura etnográfica notifica que a utilização do tambor nas atividades religiosas seculares é tão diversificada quanto nas culturas que o empregam em seus rituais, cerimônias, festas comemorativas, celebrações, cura e ritos de passagem, iniciações, etc. Em muitas tradições se diz que os xamãs usam o tambor para, em estado alterado de consciência, entrar em outros reinos, realidades ou dimensões, interagindo com o mundo espiritual em benefício de sua comunidade.
 Os xamãs afirmam que dirigem seu tambor no ar, os “senhores do êxtase”, como também são conhecidos, sendo ele seu cavalo, sua ponte de arco-íris entre os mundos físico e espiritual. Algumas culturas usam o tambor aliado com outros instrumentos: chocalhos, ressonância de varetas, ossos, metais e cantos, especialmente cantilenas: melodias repetitivas de sons monótonos, sem variações, como técnica para alcançar uma ligação à cura ou obter orientação espiritual.
Histórias nativas contam que o tambor é um presente enviado pela Águia. É o veículo do xamã, que nos permite entrar em comunicação à língua sagrada do espírito. É também meio de conectar com os pontos mais distantes da grade energética do planeta, alinhando-nos às forças da harmonia de toda a Criação: um atributo universal da consciência, ajudando-nos a viajar através do espaço do coração. Quando ouvimos o tambor ressoar, criamos uma possibilidade de oferecer a vida ao universo, ao nosso mundo e a tudo o que nos circunda. Salve Grande Espírito, Salve os tambores sagrados que carregam e reverberam as memórias de nossa ancestralidade de Cura, Luz e Amor! 
https://wohaliterapias.wordpress.com/2014/09/

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